Sabe-se que a
mídia televisiva é uma concessão pública no Brasil, isto é não é qualquer um
que pode abrir uma emissora de televisão. Pois existem critérios que definem um
perfil de administrador e que isso passa por um aval político. Sendo assim se
você pretende abrir um canal aberto de televisão aberta no Brasil, deve pedir
autorização ao governo e para tal muitos dos atuais “donos” de canais abertos
dependeram de favores políticos para conseguirem obter tal concessão, com isto
demonstra-se de que a mídia formadora de opinião não é livre e sim sujeita a
interesses governamentais.
Há também por trás da mídia quem a
mantém, do que sobrevive um canal de televisão, como que ele ganha dinheiro
para se manter. Isso ocorre por meio da venda de horário e espaço para
comerciais. Sendo assim grandes corporações compram esse caros espaços de
propaganda para exibição de seus produtos e suas ideias. Nota-se assim que um
canal de televisão não pode fazer propaganda contra de quem o permitiu
funcionar (o governo) e tampouco de quem o sustenta (grandes empresas e
corporações). A mídia então não é livre para expressar e investigar aquilo que
ela bem entender, ela está a serviço de seus patrocinadores e distorce assim a
realidade para a população.
A mídia assim sendo entra com um
papel fundamental de controle social, por meio da criação da sensação de medo
na população, o que faz com que a mesma não preste atenção em assuntos de
interesse geral e se limite em resguardar-se para que nada de mal ocorra com
a mesma. E para que serve o controle
social que pode ser exercido pela mídia? Para tal caracterização será
necessário citar o que vem a ser controle social, de acordo com BOTTOMORE e
OUTHWAITE (1996):
Esse conceito descreve a capacidade da
sociedade de se auto-regular, bem como os meios que ela utiliza para induzir a
submissão a seus padrões. Repousa na crença de que a ordem não é mantida
apenas, nem sequer principalmente, por sistemas jurídicos ou sanções formais,
mas é, sim o produto de instituições, relações e processos sociais mais amplos.
Com a caracterização feita
anteriormente, nota-se que a mídia por meio de seus telejornais e programas
policiais exerce sim um papel de controle social na criação do medo na
população e no direcionamento do foco das informações. Pois a ênfase dada aos
atos de violência criminal ao cidadão é maior maior do que a o espaço das
matérias de corrupção que caracterizam-se também como uma violência simbólica
contra o contribuinte.
O medo é caracterizado por BORGES
(2011) como uma emoção, a qual é construída por meio do convívio social humano.
Sendo assim muito dos tidos como “medo” podem ser reais e produtivos, ou
imaginários e destrutivos. Não quer dizer aqui que a violência seja algo
fictício inventado pela mídia, mas que esta a exponencia numa proporção a qual
não é real. Crimes ocorrem sim a toda hora e em qualquer local, mas não pode
ser isso que seja motivo de criar toda uma indústria da segurança privada e o
medo em sair de locais tidos como seguros, que afastarão o sujeito do convívio
social.
Por meio da criação do medo de
assaltos a residências por exemplo a construção de condomínios fechados e com
segurança privada aumentou exponencialmente no Brasil nos últimos anos. O que
não impede atualmente que os bandidos invadam essas propriedades e efetuem
arrastões, no qual essa camada da população acaba sendo de certo modo
violentada. Apenas dá um ar de maior segurança, mas não garante que a mesma
exista de fato.
Sendo assim a violência não é um
fenômeno isolado, uni causal e se manifesta sob diversas formas. De maneira
geral, essas formas de violência ganham visibilidade e disseminação nos meios
de comunicação, tanto na ficção quanto no jornalismo, tanto em texto quanto em
imagens. A mídia deve ser entendida aqui como instrumento de controle social
que contribui ou não para que o Estado assuma seu papel.
Nota-se que a mídia não se preocupa
em manter uma programação de qualidade a qual faça com que o indivíduo se
liberte de seus medos e suas amarras, muito pelo contrário esta lucra
significativamente para que este permaneça alienado e temeroso ao que pode
ocorrer com ele em contato com o mundo exterior. Com isso cada vez mais aumenta
o índice de indivíduos com fobias sociais e neuróticos com segurança.
A mídia
detém o privilégio do alcance de toda a
população, uma vez que por se tratar de uma comunicação áudio-visual não é
necessário ser alfabetizado para ter acesso a mesma. Falta-lhe encontrar seu
verdadeiro sentido de indutora da cidadania, ou seja, despertar no indivíduo o
interesse pelo bem comum, pelo bom funcionamento das instituições, pelo
bem-estar da coletividade. Mas não convém a esta ( a mídia) favorecer o
desenvolvimento de uma consciência crítica.
Como a
televisão no Brasil pertence a uma elite, ota-se que esta utiliza-se desse
mecanismo da criação do medo, para esconder os grandes escândalos de desvio de
dinheiro do governos, de acordos entre governo e grandes corporações e da falta
de investimento do governo em muitos setores públicos. Sendo assim o indivíduo
preocupa-se mais com os casos de violência urbana, recordando-se assim de casos
considerados de pessoas tidas como monstros (Caso Nardoni, Caso Suzane Von
Richtofenentre outros), do que propriamente em acompanhar o que o político no
qual ele votou na ultima eleição está fazendo em benefício da população.
Tornando assim a violência um espetáculo popular o qual tem tanta audiência como os esportes
populares no Brasil, no caso o futebol.
A
violência retratada pela mídia joga questões de julgamento para a cidadão.
Lembre-se aqui do caso da jovem Eloá Cristina, a qual foi feita refém no
próprio apartamento com mais 3 amigos e morta pelo ex-namorado (fato ocorrido
em outubro de 2008). Esse caso foi televisionado do início ao fim pela mídia.
Foi um espetáculo nacional, todos os jornais e programas policiais falavam do
caso em tempo real e davam noticias de tudo o que ocorria. O que prejudicou
inclusive a atuação da polícia , uma vez que esses programas interagiam com o
rapaz via telefone e esse assistia tudo o que ocorria do lado de fora do
cativeiro pela televisão.
Esse fato
rendeu assunto por uns três messes como mínimo para a mídia na época, e até
hoje é assunto, pois ainda está em processo de julgamento. O que é de se chamar
atenção é que fatos como esse ocorrem rotineiramente e não ganham a mínima
importância. Apenas quando é interesse da mídia e de políticos. Assim como outros
casos de violência extrema que chocam, mas que possuem uma certa identificação
social com o público de audiência da televisão aberta, ganha ênfase para que
assim torne-se um espetáculo e todos de certo modo se identificam com a dor dos
familiares das vítimas.
O
interesse em tornar esses casos de grande identificação popular num espetáculo,
serve também para aumentar a audiência o que faz com que o preço cobrado pela
propaganda vinculada a esses programas subam de preço. Uma vez que estão sendo
assistidos por um número maior de pessoas e dando assim maior visibilidade aos
produtos ali exibidos.
É muito
comum que tanto os programas policiais como os telejornais façam em cada caso
toda uma dramatização da cena do crime com auxílio da computação gráfica, com o
intuito de por o telespectador dentro da cena do crime e que assim ele poder
emitir de certo modo um juízo de valor sobre o fato. Funcionando assim a mídia
como uma formadora de um pré julgamento antes mesmo da conclusão do inquérito
policial, pois além de toda essa dramatização a mesma coleta depoimentos de
familiares e conhecidos tanto da vítima como do apontado por ela como algoz.
Trabalhando assim com a mesma dinâmica de um julgamento oficial e colocando a
população na posição privilegiada de juri, a qual condena ou não a atitude do
sujeito antes mesmo deste ir para o julgamento e antes mesmo da apreciação de
todas as provas do fato.
Fica aqui
o questionamento, até onde a mídia pode noticiar um fato sem interferir no
julgamento do mesmo. Como desenvolver uma mídia que não cause um desserviço
para a população e não se utilize dos seus mecanismos como forma de alienar e
angariar mais fundos para a sua tão lucrativa função. É uma situação delicada,
pois cada vez que se fala em um código de ética para a mídia, a mesma joga para
a população de forma a dar a entender que está sendo censurada e que como isso
pode ocorrer num Estado livre e democrático.
O
questionamento fica ainda mais intenso quando nota-se que quem detém o poder da
mídia cria mecanismos de controle por meio dela, através da dominação do medo,
mexendo assim fortemente com o imaginário popular e distanciando as pessoas
assim de uma sociabilidade. Pois causa assim o medo do outro, o outro pode ser
um assassino em série, ou um violentador de criancinhas de acordo com o perfil
traçado pela mídia com o auxílio de “especialistas” entendidos do assunto.
Por meio
dos argumentos apresentados ao longo deste artigo, pode-se perceber de que o
medo com relação a violência urbana é socialmente construído, e fortemente
influenciado pela ênfase midiática dada ao tema. Evidenciando assim que a mídia
transpõem também a realidade desigual da sociedade e a sua hierarquização.
A mídia exerce um importante papel no
desenvolvimento de orientações culturais, visões de mundo, crenças, valores e
imagens (geralmente estereotipadas). O fato é que a TV domina a vida das
crianças e adolescentes, pois estes passam horas diante da televisão, sendo
assim bombardeados por todo e qualquer tipo de informação por ela prestada. E na televisão aberta quando um fato de grande
monta como os já citados anteriormente acontecem, algumas emissoras interrompem
qualquer que seja a programação, para não perder o furo de reportagem e assim
garantir o seu alto índice de audiência. Não se importando nem mesmo se é o
horário da programação infanto-juvenil. Com isto, pode-se caracterizar-se o
medo pelo crescimento do sentimento de vulnerabilidade dos indivíduos, o qual
pode ser creditado em grande parte pela mídia a qual noticia os fatos e também
os torna um espetáculo teatralizado para o grande público.
Sendo assim uma pessoa que se mantém
sem assistir televisão não possui a mesma sensação de insegurança do que outro
que assiste diariamente. Pois este que não assiste, apenas se itera da
violência cercana e não de crimes os quais ocorrem em localidades por ele nunca
imaginadas e tampouco visitadas. A rotina dele se torna mais tranquila e menos
carregada de preocupações com relação a violência do que o sujeito que assiste
programas policiais.
Deve-se tomar muito com relação ao
papel da mídia ante a violência urbana, pois esta também não pode fingir de que
isto não existe, mas sim tratar do tema com maior discernimento, por exemplo
buscando quais são os fatores sócio-econômicos que fazem com que exista essa
violência e buscar com a comunidade prováveis possíveis soluções para a
problemática. Sem fazer da violência um teatro dramático com roteiro de
telenovela.
E que a criação do medo não funcione mais como uma
“cortina de fumaça”, a qual serve para desviar a atenção da população de temas
importantes (corrupção, educação, saúde pública …) para que esta fique alienada
a pensar apenas na sua segurança em particular.
Para que assim a mídia exerça uma função social de mobilização social para
o debate de problemas públicos, por meio de seu espaço midiático e sua
abrangência.
Acredita-se que se o atrelamento ao
governo fosse reduzido e também o espaço de comercialização também fosse
reduzido, em compensação receberia uma parte em patrocínio público. Pode ser
que assim esta não precisa-se lutar tanto por audiência e submeter os seus
telespectadores a assistirem casos tão fora do normal. Pode ser que assim
talvez melhorasse a qualidade programática da televisão aberta no Brasil.
Contudo há muito que se desenvolver
sobre mídia no Brasil, tendo em vista que o país ainda importa muitos formatos
de programas do exterior e não busca em muitos casos produzir ideias próprias
para o público ao qual ela atende. Então enquanto isso ocorrer dificilmente haja
uma mudança significativa na mídia televisiva do Brasil.
Referências
OUTHWAITE, W.;
BOTTOMORE, T. (eds.). Dicionário do pensamento social do século XX.Rio
de Janeiro: Zahar, 1996.