A indisciplina escolar pode ter origens
diversas, mas que devem ser pesquisadas pelos professores para a melhoria de
sua prática docente em sala de aula. Pois o aluno que não consegue seguir as
normas de convivência social, pode estar fazendo isso para atentar o
profissional de outro problema que o mesmo possa estar passando. Mas um fator
interessante da indisciplina é defendido por (ECCHELI, 2008 p. 200):
“É provável que a indisciplina
observada nas escolas esteja diretamente relacionada à falta de motivação dos
alunos diante do fato de se verem obrigados a estar numa sala de aula sem
entender o porquê e para quê daquilo, considerando os conteúdos inúteis ou,
mesmo que sejam úteis, não compreendendo bem para que servem ...”
Cabendo
assim ao professor uma tornar suas aulas, mais interessantes aos alunos,
fazendo com que os alunos se apercebam da significância dos conteúdos
trabalhados em sala de aula no seu cotidiano. Partido dessa premissa, os
conteúdos também podem ter uma abordagem mais motivadora originada pelo
professor.
Existem
pesquisas que atentam para que a criança indisciplina em sala de aula, não é
necessariamente indisciplinada em outros espaços de convívio social. Sabe-se de
que há diferenças comportamentais de acordo com o espaço social no qual o jovem
está inserido naquele momento. Como aponta (AQUINO, 1998 p. 5):
“Pois bem, esse tipo
de entendimento da questão disciplinar, mais de cunho psicológico, merece pelo
menos dois reparos: o primeiro, com relação à ideia de ausência absoluta de
limites e do desrespeito às regras; o segundo, sobre a suposta permissividade
dos pais.
Vejamos o primeiro: se prestarmos um
pouco de atenção nos alunos mais indisciplinados fora da sala de aula, num jogo
coletivo, por exemplo, veremos o quanto as regras são muito bem conhecidas
pelas crianças e adolescentes. Não é nada estranho a um jovem de hoje em dia a
vivência de uma situação qualquer de acordo com as regras muito bem
esclarecidas, rígidas na maioria das vezes.
Um bom exemplo disso se encontra
quando, num jogo ou brincadeira infantil, alguém não cumpre aquilo que foi
acordado previamente entre os participantes, e este assim considerado
“desviante” ou infrator é severamente punido ou mesmo expulso do jogo. No
limite, pode-se afirmar que um “governo” infantil é nitidamente despótico, porque
não prevê jurisprudências, prerrogativas, maleabilidade.”
A
teoria exposta anteriormente é interessante, pelo fato de que no jogo a
sociedade envolvida pode ser utópica, a justiça é cumprida no exato momento em
que se descobre a trapaça. Forjando assim um compromisso maior entre os alunos,
quando trabalhado o jogo paralelamente ao conteúdo, pois há o julgamento dos
valores e da disciplina que é questionada pelos próprios alunos durante o jogo.
Existe
um problema a ser pontuado no universo infanto-juvenil que é a falta do lazer
lúdico, pois estes por muitas vezes são obrigados pelos seus pais a cumprirem
agendas de atividades que nada possuem de lúdico e muito possuem de obrigações
e compromissos. O que faz com que a criança ou adolescente não viva o lúdico
que é fundamental nessa fase do desenvolvimento.
É
comum ver crianças apáticas devido ao abatimento causado pelas horas exaustivas
de cursos e esportes extracurriculares que seus pais as submetem para que
através desses cursos obtenham na fase adulta uma prosperidade econômica.
Esquecendo-se da importância do brincar e jogar na infância e na adolescência,
causando-lhes provavelmente futuros traumas, por não terem vivido de acordo com
a idade biológica.
O
lúdico faz com que a imaginação aflore no indivíduo, despertando-lhe para a
criatividade e para uma maior tranquilidade em momentos de adversidades.
Pessoas que jogam e que brincam, conseguem apontar um maior número de possíveis
soluções para um problema que lhes é apresentado. Como apontam (DIATKINE e
LEBOVICI, 1985 p. 14):
“Ação livre, sentida como fictícia e
situada fora da vida comum, capaz, não obstante, de absorver totalmente o
jogador ; ação despojada de qualquer interesse material e de qualquer
utilidade, que se realiza num tempo e num espaço estritamente definidos;
desenvolve-se com ordem, segundo regras estabelecidas, e suscita, na vida,
relações de grupo que, saborosamente, se rodeiam de mistério, ou que acentuam,
mediante o disfarce, o quão estranho são ao mundo habitual.”
Essa
carência de brincar e jogar, adequar-se aos limites do jogo e entregar-se ao
universo infinito do lúdico, gera um desconforto e também uma ânsia no
educando, para que essa falta seja suprida. Outra afirmação importante a ser
considerada sobre a carência do lúdico em alguns casos é (DIATKINE e LEBOVICI,
1985 p. 12):
“Com efeito, a atividade lúdica da
criança é considerada com menosprezo pelo adulto, que a contrapõe ao seu
trabalho cotidiano... Mas esta aplicação da técnica psicodramática é, em certos
grupos , uma das melhores formas de abordar as dificuldades de identificação
nas relações interpessoais.”
As
regras existentes num jogo possuem uma motivação para estarem estabelecidas, e
a sua compreensão por parte dos jogadores é importante para que haja um
desenvolvimento salutar da atividade proposta. Uma vez que, as regras são os
limites que existem na sociedade miniaturizados para o universo lúdico do jogo.
A simulação de atividades adultas por meio dos jogos facilitarão aos jogadores
a compreensão das regras de convívio social quando estiverem na fase adulta
como na afirmação a seguir, “Através da
brincadeira, descobrem-se a vida social dos adultos e as regras que regem essas
relações.” (CANEDA e GARÓFENO, 2005 p. 77).
A
compreensão das regras de um jogo a ser aplicado com crianças é importante,
para que não haja um julgamento dúbio do mediador e dos outros jogadores com
referência à situações adversas que se apresentem. Tanto os jogadores devem
estar interados das regras como o mediador também, pois com todos os membros
interados a dinâmica é mais intensa e não se torna necessário parar o jogo a
todo instante para conferir e refletir as regras em cada caso isolado.
Crianças
possuem uma necessidade de regras e limites, que elas mesmas testam
cotidianamente para conhecerem melhor o seu meio e a si própria como afirma
(CHATEAU, 1987 p. 66):
“A criança ama a regra; na regra ela
encontra o instrumento mais seguro de sua afirmação; pela regra, ela manifesta
a permanência do seu ser, de sua vontade, de sua autonomia.”
A
regra previamente estabelecida entre os jogadores é o ordenamento dos atos
destes mesmos, pois sem as regras não há um roteiro a ser seguido por estes,
claro que o lúdico vai abrir-lhes caminhos maiores dentro do jogo. Mas serão as
regras que ordenarão a sequencia lógica do jogo e o papel de cada jogador
inserido nesse contexto.
Não
se pode deturpar o jogo como um adestramento juvenil como muitos se utilizam
dessa prática para esse fim, mas sim do jogo como um momento de reflexão de
tomadas de decisão e também de vivência do lúdico e da criatividade
infanto-juvenil. Sendo assim as regras não são para cerceamento da liberdade e
da criatividade, mas sim normas de conduta dentro do contexto do jogo.
A
indisciplina escolar do aluno pode causar-lhe problemas na fase adulta por não
ter percepção das regras sociais do universo adulto. Portanto é interessante
que se faça um trabalho ainda na fase da infância ou mais tardar na
adolescência, para que este não se prejudique na fase adulta por
desconhecimento de convivência social.
Se
o indivíduo não é motivado a vivência social na infância e na adolescência,
este tenderá a ter distúrbios comportamentais na fase adulta. Uma vez que para
muitos cargos em empresas são exigidas certas aptidões sociais do indivíduo
para a sua contratação, como liderança, oratória, relacionamento interpessoal
dentre outros. E essas aptidões não são aprendidas como qualquer conhecimento
científico, mas sim através da vivência de situações sociais adversas para que
a mente se acostume a tomada de decisões.
Na
infância e na adolescência o caráter e a moral ainda são moldáveis, uma vez
consolidados certos valores para os indivíduos, dificilmente serão remodelados
ou substituíveis. Um exemplo é o preconceito que quando trabalhado desde a
infância para acabar com ele no indivíduo é muito provável que na fase adulta
desse sujeito ele já não tenha mais isso incutido em sua mente. Mas quando não
são trabalhados, os problemas serão sérios para o sujeito principalmente e
também para a sociedade.
As
regras, portanto do jogo facilitam ao aprendizado social do indivíduo, que
levará esse conhecimento para a sua fase adulta. Sendo assim o jogo um
instrumento fundamental para o aprendizado, que influenciará de modo direto na
fase adulta. Podendo assim ser utilizado sem restrições para os casos de
indisciplina escolar, pois é uma ferramenta que deve ser utilizada, mas sempre
com o devido planejamento e com o devido propósito, para que não se torne algo
sem sentido para os alunos e também sem função. Pois o jogo deve ter os seus
propósitos bem claros para os seus participantes e também para o planejamento
docente.
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